Apresentação
Não é possível propugnar a
edificação da nova sociedade sem assumir concomitantemente o compromisso com a
educação de qualidade para todos, com direito humano inalienável.
O desafio que se apresenta a
todos, nesse sentido, não se resume à consolidação de estruturas e à
multiplicação de prédios escolares.
Sabemos da necessidade de
acrescentar aos nossos esforços e compromissos um processo de renovação
paradigmática capaz de incorporar os novos desafios que se apresenta não
somente na escola, mas também à humanidade.
Torna-se necessário,
portanto, promover a circulação de saberes que nos motivem a romper com a
fragmentação do conhecimento que nosso
modo de viver ocasiona.
Trata-se da oportunidade de
conduzir o homem a encontro consigo mesmo e em todas as suas dimensões, ou
seja, da oportunidade de celebrar o encontro entre pessoas e natureza como
expressões de uma única manifestação da vida, sem dicotomias e sem espaços para
um existir predatório e desagregador.
A “cultura da paz”
subjacente à mensagem desta obra é um
dos fundamentos que articulam o trabalho educativo de nossa editora.
Conferência
Internacional sobre os Sete Saberes Necessários à Educação do presente
Os debates de quatro dias em
Fortaleza, 21 a 24 de setembro de 2010, surgiram alguns consensos e importantes
recomendações inspiradas na obra de Edgar Morin.
Os Sete saberes Necessários à educação do
futuro é um precioso legado para a formação das futuras gerações e deve ser
promovido nas instituições educacionais dos países.
Conforme defende Edgar Morin
, é importante ter o pensamento complexo, ecologizado, capaz de
relacionar, contextualizar e religar diferentes saberes ou dimensões da vida. A
humanidade precisa de mentes mais abertas, escutas mais sensíveis, pessoas
responsáveis e comprometidas com a transformação de si e do mundo. Para isso é
fundamentalmente criar espaços dialógicos, criativo, reflexivos
democráticos capazes de viabilizar
práticas pedagógicas fundamentadas na solidariedade, na ética, na paz e na
justiça social.com uma educação que privilegie os Sete Saberes e seja pautada
no desenvolvimento da compreensão e da condição humana, na cidadania planetária
e na ética do gênero humano poderá colaborar para que os indivíduos possam
enfrentar as múltiplas crises sociais, econômicas, políticas e ambientais que
coloquem em risco a preservação da vida no planeta. Sendo necessárias novas
praticas pedagógicas para a educação
transformada que esteja centrada na condição humana, no desenvolvimento da
compreensão, da sensibilidade e da ética, na diversidade cultural, na
pluralidade de indivíduos, e que privilegie a construção de um conhecimento de
natureza transdisciplinar, envolvendo as relações indivíduo-sociedade-natureza.
Este texto não é um tratado
sobre o conjunto das disciplinas que são ou deveriam ser ensinadas: pretende,
única e essencialmente, expor problemas centrais ou fundamentais , que
permanecem totalmente ignorados, ou esquecidos, e que são necessários para se
ensinar no próximo século.
As
cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão
Todo conhecimento comporta o
risco do erro e da ilusão. A educação do futuro deve enfrentar o problema de dupla face do erro e da ilusão. O
reconhecimento do erro e da ilusão é ainda mais difícil, porque o erro e a ilusão
não se reconhecem, em absoluto, como
tais.
Erro e ilusão parasitam a
mente humana desde o aparecimento do Homo sapiens. Quando consideramos o
passado, inclusive o recente, sentimos que foi dominado por inúmeros erros e
ilusões.
1- O Calcanhar de Aquiles do Conhecimento
A
educação deve mostrar que não há conhecimento que não esteja, em algum lugar
grau, ameaçado pelo erro e pela ilusão. O conhecimento não é um espelho das
coisas ou do mundo externo. Todas as percepções são, ao mesmo tempo, traduções
e reconstruções cerebrais com bases e estímulos ou sinais captados e
codificados pelos sentidos. Os inúmeros erros de percepção que vêm de nosso
sentido mais confiável, o da visão. Ao erro de percepção acrescenta-se o erro intelectual.
O conhecimento, sob forma de palavra, de ideia, de teoria, é o fruto de uma
tradução por meio da linguagem e do pensamento e, por consequência, está
sujeito ao erro.
Poder-se-ia crer na
possibilidade de eliminar o risco de erro, recalcando toda afetividade. O sentimento,
a raiva, o amor e a amizade podem cegar. O desenvolvimento da inteligência é inseparável
do mundo da afetividade, isto é, da curiosidade, da paixão, que por sua vez,
são a mola da pesquisa filosófica ou científica. O desenvolvimento do
conhecimento científico é poderoso meio de detecção dos erros e da luta contra
as ilusões. Mesmo assim, os paradigmas que controlam a ciência podem desenvolver
ilusões, e nenhuma teoria científica está imune ao erro para sempre. O conhecimento
científico não podem tratar sozinho dos
problemas epistemológicos, filosóficos e éticos. A educação deve dedicar-se,
por conseguinte, à identificação da origem de erros, ilusões e cegueiras. Os
erros mentais, os erros intelectuais, os erros da razão, as cegueiras
paradigmáticas.